Curso de Antibioticoterapia: Aula 2 - Macrolídeos

 Visão Geral dos Macrolídeos

Todo Macrolídeo deve ter em sua estrutura um Anel Lactânico Macrocíclico. Além disso, como o próprio nome sugere, os Macrolídeos são antibióticos grandes e com maior peso molecular.

Figura 1: Anel Lactânico Macrocíclico

Os principais antibióticos dessa família são:

  1. Eritromicina(s)

  • Oleandomicina
  • Carbomicina
  • Rosamicina
  • Midecamicina
        1. Espiramicina

        2. Claritromicina

        3. Azitromicina

        4. Diritromicina (recente)

        5. Telitromicina (recente)

        Macrolídeos são bacteriostáticos que agem inibindo a síntese proteica da bactéria. Mais especificamente, eles inibem a unidade 50s dos ribossomos.

        Existem 4 maneiras pelas quais a resistência aos Macrolídeos, e outros bacteriostáticos, se desenvolve:

        • Alteração no local de ligação da droga
        • Inativação da droga por via enzimática
        • Bomba de efluxo – expulsão da droga do citoplasma bacteriano
        • Impermeabilização da membrana – fechamento dos poros, impedindo a entrada da droga

        As principais bactérias que apresentam resistência aos Macrolídeos atualmente são:

        • Estafilococos aureus
        • Estafilococos pneumoniae
        • H. influenzae

        As três são causadoras de pneumonia comunitária, doença comum e cada vez mais difícil de tratar.

        Eritromicina

        A eritromicina possui uma forma natural, no entanto, nessa forma ela apresenta três grandes inconvenientes:

        • Sabor desagradável
        • Instabilidade em meio ácido
        • Baixa hidrosolubilidade

        Eritromicina Base (natural) + Ácidos Orgânicos =

        Sais de Eritromicina:

        • Estearato Eritromicina (principal)
        • Gluceptato Eritromicina
        • Lactobionato Eritromicina

        Ésteres de Eritromicina:

        • Estolato Eritromicina (principal)
        • Etilsuccinato Eritromicina
        • Laurilsulfato Eritromicina

        A eritromicina base é utilizada apenas por via tópica, de forma que nenhuma de suas desvantagens interfira.

        Farmacocinética

        • Absorção reduzida na presença de alimentos
        • Excelente concentração intracelular
        • Baixos níveis no SNC e em fetos (6 a 20% de biodisponibilidade)
        • Meia vida de 1H e 30 min
        • Concentração inibitória mínima mantida por mais tempo, já que o fármaco tem alta permanência tecidual, o que garante que ele seja administrado a cada 6 ou 8 horas.
        • Eliminação quase que totalmente biliar e fecal, sendo de 2 a 5% renal

        Espectro de Atuação

        • Cocos gram (+) - Estreptococos e Estafilococos
        • Cocos gram (-) - Neissérias
        • Bacilos gram (+) - Clostridium e Corinebactérias

        O espectro de atuação dos antibióticos é estabelecido in vitro, é necessário averiguar se o mesmo pode ser utilizado na prática clínica.

        A eritromicina é muito eficaz contra as bactérias: N. meningitidis e N. gonorrhoeae. No entanto, ela é útil apenas em vitro contra essas bactérias, uma vez que não atravessa a barreira hematoencefálica e sua concentração urinária é de cerca de 5%.

        Prática Clínica

        A eritromicina é utilizada geralmente no tratamento de:

        • Infecções das vias aéreas superiores, principalmente casos de amigdalite
        • Infecções urogenitais
        • Coqueluche, embora a azitromicina seja mais utilizada
        • Difteria, mas nos casos graves é preferível utilizar betalactâmicos parenterais
        • Sífilis, como alternativa à penicilina

        Obs: Eritromicina é a segunda opção (oral) contra bactérias sensíveis à penicilina G. Geralmente ela é utilizada em pacientes alérgicos à penicilina.

        Efeitos Adversos

        De maneira geral, a eritromicina é uma droga bem tolerável, sendo pouco tóxica.

        Seus principais efeitos adversos são no aparelho digestivo, como: dor no estômago, náusea e diarreia. Isso se deve à característica ácida da molécula.

        Espiramicina

        Descoberta em 1954, 2 anos depois da eritromicina. Possui farmacocinética e espectro de atuação semelhante a eritromicina.

        Muito eficiente contra toxoplasma gondii e possui alta concentração em tecido placentário, embora não consiga ultrapassar a barreira placentária. Devido a essas características, seu uso principal, e quase único, é o tratamento de toxoplasmose aguda em gestantes.

        Claritromicina

        Derivado da eritromicina, sendo um macrolídeo semi-sintético, foi lançado no mercado em 1984. Seu espectro de atuação é o similar ao da eritromicina, mas esse fármaco atua em alguns tipos de bactérias adicionais, além de ser mais eficaz que a eritromicina contra:

        • Estafilococos
        • Chlamydia trachomatis
        • Mycoplasma pneumoniae
        • Legionella pneumophila

        A claritromicina também atua sobre bactérias como:

        • T. gondii
        • M. leprae
        • M. avium
        • H. pylori

        Farmacocinética

        • Molécula ácida e estável
        • Uso normalmente oral em casos de difteria grave
        • Uso parenteral para infecções em: pulmão, rins, fígado, mucosa nasal e amígdalas
        • Eliminação iminentemente renal, sendo o único do grupo dos macrolídeos com essa característica

        Prática Clínica

        A claritromicina costuma ser utilizada em:

        • Infecções das vias respiratórias altas
        • Infecções das vias respiratórias baixas (pneumonia, incluindo as mais atípicas)
        • Infecções dermatológicas
        • Toxoplasmose cerebral, sendo um tratamento alternativo à (sulfa + pirimetamina)
        • Gastrite causada por Helicobacter Pylori

        A claritromicina costuma ser utilizada de forma profilática em alguns pacientes com HIV para proteção contra Micobacterium avium. O paciente deve apresentar uma concentração de células LT-CD4 inferior à 50 cel./mm3 para que seja necessário o tratamento profilático.

        Azitromicina

        Molécula bem similar à eritromicina, se diferindo apenas pela adição um átomo de Nitrogênio no anel lactânico. Por outro lado, sua ação difere bastante da eritromicina.

        Mecanismo de ação é o mesmo da eritromicina, ou seja, inibição da síntese proteica, sendo um bacteriostático. A molécula é estável em meio ácido, mas sua biodisponibilidade cai em 50% na presença de alimento.

        As concentrações teciduais da azitromicina são 50 vezes maiores que as séricas. Devido a isso, a meia vida sérica é de 14 a 20 horas, enquanto a meia vida tecidual é maior que 60 horas.

        A eritromicina é pouco metabolizada, o que a torna segura em pacientes com problemas no fígado. A eliminação desse fármaco, assim como diversos outros macrolídeos, é pela via biliar.

        Espectro de Atuação

        Bactérias gram (+)

        • Estreptococos viridans
        • Estreptococos pyogenes
        • Estafilococos epidermidis
        • Estafilococos aureus
        • Corinebacterium difteriae

        Bactérias gram (-)

        • Haemophilus sp.
        • Moraxella catarrhalis
        • Víbrio cholerae
        • Shiguella sp.

        A azitromicina ainda atua sobre:

        • Bordetella pertússis
        • Pneumocystis jiroveci
        • Mycobacterium avium

        Prática Clínica

        A azitromicina é usualmente utilizada no tratamento de:

        • Infecções de pele
        • Infecções urogenitais, antes era utilizado outro medicamento, mas que foi substituído devido à resistência crescente da gonorreia
        • Infecções Respiratórias (Amigdalites, sinusites, otites e faringites. Em alguns casos, pneumonia comunitária e exacerbações de bronquite crônica)

        Azitromicina também pode ser usada de forma profilática contra Micobacterium avium, da mesma forma que a claritromicina.


        Referências:

        Curso de Antibioticoterapia da Liga de Clínica Médica (LCM) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

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